Para além da inteira santificação

Publicado originalmente no ARAUTO DE SANTIDADE (15 DE OUTUBRO DE 1982)

 
Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Efésios 4:13).
Por C. William Fisher

Conta-se que Espanha imprimira nas suas moedas as Colunas de Hércules com as palavras: Nec Plus Ultra—Não Mais Além. Porém, no tempo dos descobrimentos, quando essas colunas foram ultrapassadas (eram assim chamadas as duas montanhas localizadas perto do estreito de Gibraltar), Espanha retirou a partícula nec e deixou Plus Ultra— Mais Além.

Na doutrina de algumas igrejas também aparecem as mesmas palavras: “Não mais além”. Mas a Bíblia declara constantemente ao homem: “Tu não tens que permanecer onde te encontras; há mais—mais graça, mais poder, mais alegria”.

Deus diz aos pecadores: “Arrependei-vos, e crede… Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Marcos 1:15; Romanos 10:13).

À pessoa salva é recomendado: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação. Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (I Tessalonicenses 4:3, 7; 5:24).

E àquele que foi salvo e santificado: “A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito” (Provérbios 4:18). I João 1:7 diz: “Se andarmos na liiz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”.

As crises (salvação, santificação) são necessárias e maravilhosas mas, em si, não constituem o fim. São começos e não conclusões. As crises encaminham-nos para novos horizontes. Não são metas, mas portas de acesso—a melhores relações, a novas aventuras e a uma vida de dimensões mais excelentes e satisfatórias.

Oswald Chambers declarou que “a prova duma vida escondida com Cristo em Deus não é a experiência da salvação ou da santificação, mas a relação resultante delas”.

E continuou: “A experiência de santificação será inútil se não nos capacitar para uma relação completamente nova. Talvez ela se tenha realizado logo após a conversão, mas a nossa vida mostrará a evidência”… Chambers concluiu: “As pessoas param na sua experiência cristã porque vivem no passado, de acordo com o que lhes aconteceu uma vez, e não conservam a relação constante com Deus que tudo supera”.

Passar da morte para a vida e do pecado para a salvação é, certa- mente, uma experiência extraordinária. Mas o mais importante não é “passar”, mas palpitar nova vida, ser nova criatura— um filho de Deus.

É glorioso experimentar o poder de Deus na inteira santificação. No entanto, sua maior importância não reside na crise mas na vida de santidade, num companheirismo mais profundo com Deus, o Autor da experiência.

Como pode crescer algo que é “inteiro”? A inteira santificação não significa que alguém é perfeito física, emocional e intelectualmente, mas perfeito em amor.

Na inteira santificação, Deus não destrói a humanidade, senão o pecado que habita no coração. Uma boa relação com Deus ultrapassa qualquer crise, é uma relação de amor. A grandeza e mistério deste amor é que pode ser total e, ao mesmo tempo, permitir crescimento contínuo. Edwin C. Lewis diz que “a natureza do amor é sempre a mesma, mas pode melhorar em qualidade e crescimento. A perfeição do amor obtem-se em dado momento da vida cristã. Porém, com o tempo há novas possibilidades, exigências e experiências. Permanecer no mesmo nivel de amor é deixar de ser perfeito.

Lewis chegou à conclusão de que o “amor perfeito” só o é havendo crescimento contínuo. Como se alcança o amor perfeito? Por meio de entrega, obediência e fé contínuas, à medida que vão surgindo novos desafios e percepções do que significa chegar “à medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4: 13).

Consagrar-se a Deus é mais que uma acção; é uma atitude. A vida cristã deve adquirir novas dimensões para a consagração e a fé estarem à altura dos desafios.

Dougan Clark disse: “Depois do acto formal e definitivo de consagração, surgirão provas inesperadas de obediência e entrega; perguntas imprevistas de que não suspeitávamos quando deixámos tudo para seguir a Cristo. Portanto, a nossa vida espiritual será uma submissão contínua e diária ao Senhor, expressa nas palavras de Jesus: “Não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42).

John E. Bushell mencionou em certa ocasião “os amplos horizontes” das possibilidades. O amplo horizonte do crente leva-o a olhar para além das experiências da conversão e da inteira santificação, buscando a profundidade e amplidão do amor e da graça de Deus! A tarefa da verdadeira religião é alargar a visão espiritual pelo desenvolvimento da relação com Deus. Em João 10:10, Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham com abundância”.

Anunciai em toda a parte—nas montanhas, nos vales, nas cidades, nos arredores, nas universidades, nas igrejas—que a vida cristã não é limitada e oprimen- te. É uma vida livre, de largos horizontes em desenvolvimento. Para além das fronteiras da experiência, regras ou regulamentos religiosos, aspiremos “à medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4:13).

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